PAISAGISMO E ORIGINALIDADE


Pergunto: até que ponto nós os paisagistas, somos obrigados a sermos criativos? Por que em cada projeto precisamos desenhar um jardim único e incomum?

Raul_Canovas_Paisagista

Bem, seguramente porque escolhemos uma atividade que nos obriga a produzir a partir de um vazio. Temos que dar existência a algo que antes não aconteceu; onde não era nada. Esse vazio esse espaço tem, por assim dizer, uma vocação, assim como, uma tendência natural para receber uma determinada vegetação, seja pelo tipo de solo ou pelo clima onde está localizado. O terreno baldio que receberá esse jardim deverá ter uma personalidade que a diferencie das demais; será uma construção viva que irá representar a história e o folclore do lugar geográfico, onde está localizado; não seria coerente reproduzir uma paisagem francesa no sertão pernambucano ou, um jardim Zen budista em um barzinho da pauliceia. No primeiro exemplo, porque estaríamos negando a rica floresta de Bonito, com suas cachoeiras deslumbrantes; o Vale do Catimbau e sua flora característica e as praias de Porto de Galinhas que serviriam de inspiração, sempre que pensemos em algo impar e genuinamente pernambucano. Se vamos projetar uma área verde em nesse estado, porque não buscar inspiração nesses locais citados? Por que pressupor que aquilo que vem de fora é mais chique? Para imitar o estilo francês precisaríamos ser como eles, sentir como eles. Os jardins de Versalhes, de Vaux-le-Vicomte e do Château de Chenonceaux são o resultado de uma época onde o barroquismo impunha traçados cheios de artifícios e plantas excessivamente podadas, para demonstrar o poder do reino sobre tudo e sobre todos, inclusive sobre a natureza. Será que, desde o ponto de vista socioeconômico, isto tem a ver com a gente?

No segundo exemplo nos deparamos com algo deplorável que, infelizmente, é bastante comum, e é essa coisa de reproduzir um jardim pleno de misticismo, em um local aonde as pessoas vão para se divertir; ninguém frequenta um barzinho para meditar, pessoa alguma vai alcançar o satori, que é o estado de iluminação profundo e verdadeiro do budismo, com um copo de cerveja na destra. Paisagismo também é cultura, e o respeito é uma prática social inerente a ela. Imaginou entrar num botequim em Tóquio e encontrar símbolos cristãos fazendo parte da decoração? Pois é, não dá para supor um mau gosto desses.

Voltemos ao tema. É impossível dissociar criação de originalidade e esta originalidade não significa fazer sempre jardins singulares, mas sim, sermos singulares utilizando a matéria prima essencial: a planta. Um projeto paisagístico impar é notável quando expressa exatamente o pensamento do criador, que representou o aparecimento de algo único, considerando o pendor desse espaço, sua situação e as circunstâncias que permitiram delinear uma paisagem de produção pessoal.

O paisagista brasileiro precisa declarar sua independência. Assim como em 1822 nos emancipamos do colonialismo português, hoje é necessário libertarmos das ideias que nos chegam de fora; devemos vasculhar fontes de informação observando: nossa flora, nossos hábitos, nosso folclore pleno de personagens, valorizando nosso Curupira e deixando de lado celebrações que não tem nada a ver com a gente, como é o caso do halloween.

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É uma questão de autoestima. Como não sentir estima pela flora mais rica do planeta? Como não sentir estima pela arte de nosso país?

Experimente o gostinho de nossa paisagem.

 

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