Paisagismo a beira mar


Fica nítido o deslumbramento de Gardner com a natureza de nossas costas, nosso litoral sempre chamou a atenção do visitante estrangeiro (eu me incluo na relação dos fascinados).

Porém, algo mudou nesses anos todos e certamente não foi apenas à paisagem, agora crivada de condomínios e marinas; a grande transformação está no próprio ser humano, que vive atualmente de uma maneira menos afetada tentando equilibrar melhor o lazer com o trabalho. A semana de cinco dias foi uma conquista, que nos permite ter mais tempo para investir em nos mesmos, e uma das coisas gostosas dessa ociosidade provocada é praticá-la no lado externo de nossa casa, longe de paredes e carpetes e em contato com um bucólico que já parecia perdido; o jardim passou a ser uma espécie de refugio ideal, onde comemos churrasco, nadamos, dormimos na rede ou simplesmente sonhamos em parecermos um pouco mais com aquele homem primitivo que não sabia de estresse.

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Por isso, cada vez mais, o paisagista procura alternativas para transformar os espaços ao ar livre não apenas em bonitas coleções de plantas, mas também em ambientes que nos permitam habitar descontraidamente, desfrutando do calor e do sol, dádivas estas tão nossas e tão presentes.

Vivemos um momento interessante, onde à tecnologia nos permite mais liberdade, hoje não é mais utópico pensar em morar na praia sem perder contato com nossos clientes e fornecedores, um simples computador pode encurtar qualquer distância e o melhor é que podemos acessar a internet vestindo bermuda e camiseta, bem ao lado da piscina, bebendo água de coco.

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O importante de tudo isso é entender que é fundamental encontrar uma forma brasileira de viver, onde nossos sentimentos sejam alimentados sempre, por aquilo que é genuíno e sem complicações. Imagine sentar a sombra de um coqueiro sentindo o perfume intenso do lírio-do-brejo, pense no sabor do araçá maduro e nas andorinhas, fazendo desenhos que misturam mar com céu. Tudo muito simples, quase singelo, porque para ser feliz não precisamos de muito esforço, apenas precisamos cultivar aquelas quimeras ingênuas, que florescem pontualmente a cada devaneio.

Porque precisamos ser crédulos... E felizes.

 
Raul Cânovas - 100 anos de tradição familiar