
O Valor da Natureza
- Rachel Castanheira
Começo este texto com uma pergunta reflexiva: qual o valor que a natureza tem em sua casa?
São Paulo – SP – Créditos: Projeto autoral
Pergunto isso, pois, após mais de uma década atuando na área de paisagismo, pude constatar que uma parte dos clientes não reflete sobre o significado de ter plantas dentro de suas casas, apartamentos, escritórios, áreas externas. Muitas vezes, as plantas são vistas como objetos somente.
Para ilustrar esta condição, compartilho com vocês algumas perguntas curiosas que nós, paisagistas, às vezes escutamos quando vamos visitar um potencial cliente: “Quanto irei gastar para ter “isso” em minha casa?” Quanto ficará “isso”? Como vou cuidar “disso”?
A própria utilização da palavra “isso” como sinônimo para as plantas, os jardins, o paisagismo, já, implicitamente, indica a objetificação da natureza.
São Paulo – SP – Créditos: Projeto autoral
A partir deste raciocínio objetificante, muitos clientes demonstram uma maior valorização para os demais móveis e objetos não vinculados ao paisagismo: a cama, o sofá, a poltrona, a obra de arte etc. Não que os móveis, os acabamentos, os objetos não tenham o seu valor, pelo contrário, para a produção de cada objeto foram utilizadas a criatividade, a inspiração, os materiais dos quais ele é feito, a mão de obra, o tempo etc. Eles têm um valor significativo: e aqui não estou falando do valor financeiro somente, mas, sim, do valor no sentido mais amplo (acomodação, organização, estética, conforto etc.). Porém, a questão central é: por que, às vezes, associamos plantas a objetos? Adicionalmente, por que, ao fazer esta associação, demonstramos valorizar menos as plantas do que os demais objetos que compõem a decoração das nossas residências? Ambas as perguntas estão interligadas?
De onde vêm os materiais com os quais os móveis de nossas residências são construídos? A maioria deles, por não dizer a totalidade, vêm da natureza, certo?
Um sofá tem a madeira, o algodão, o prego, o parafuso, o metal, a espuma. Todos os elementos vêm, direta ou indiretamente, da natureza. A natureza que nos entrega esses elementos e não cobra nada em troca.
Será que um sofá, um objeto de arte, uma cadeira, uma cama, têm mais valor do que uma planta que absorve o gás carbônico que expelimos, limpa as impurezas do ar, adorna e compõe o ambiente arquitetônico de nossos lares?
São Paulo – SP – Créditos: Acervo pessoal
As plantas, além dos benefícios apontados acima, têm a capacidade de nos inspirar, cotidianamente, incluindo a melhora do humor e a redução da ansiedade. Basta observarmos os seus movimentos, as suas transformações. Estudos recentes têm demonstrado que o simples ato de cuidar de plantas ou estar próximos delas pode reduzir os níveis de cortisol (o chamado hormônio do estresse). Adicionalmente, a observação do crescimento de uma planta também proporciona, potencialmente, uma sensação de calma e (re)conexão com a natureza. Reconexão com a Terra.
Terra que nos alimenta.
Terra que nos dá firmeza.
Terra que nos coloca os pés firmes.
Terra que nos dá base.
Terra diversa.
Terra viva.
Terra Rica.
Repetindo e ampliando a pergunta inicial deste texto: qual o valor que a natureza tem em sua casa e em sua vida?
Crédito: Imagem de Reinout Dujardin por Pixabay
Se você chegou até aqui, já deve ter percebido que esta pergunta não está associada ao valor financeiro (apesar de que na decoração de nossas casas, o custo monetário é um fator relevante na tomada de decisão). A reflexão que tenho feito e que, neste texto, procurei compartilhar com vocês é: conseguimos enxergar, com profundidade, a relevância da natureza em nossas vidas? Desconectar-se da natureza não simbolizaria a própria desconexão do humano consigo? Qual o real valor da vida natural? Qual é o real valor da vida em natureza?