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A Câmara dos Deputados e o Paisagismo Brasileiro, sob a ótica de Raul Cânovas


“Na ilustre quinta feira, dia 19 de abril, estive em Brasília-DF, na Praça dos Três Poderes, mais precisamente no Congresso Nacional, sede do Legislativo Brasileiro, onde aconteceu o debate nacional sobre a Regulamentação da profissão de Paisagista, no Brasil.

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Localizada no extremo leste do plano piloto, concebido por Lúcio Costa, essa praça surge de modo estranho na Capital Federal, sem nenhuma árvore para lhe fazer sombra. É uma paisagem de uma dramaticidade forte pela sua concepção arquitetônica e o edifício projetado por Oscar Niemeyer é acompanhado pelas cúpulas que abrigam os plenários das duas casas.

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Nada mal para intimidar um paisagista que chega lá com as melhores intenções, na tentativa de proteger os direitos daqueles que dedicam suas vidas a devolver as paisagens genuínas que foram sendo perdidas nas últimas décadas. Depois do primeiro susto entramos no edifício, recentemente tombado pelo Iphan, e fomos ao encontro do deputado federal Ricardo Izar (PSD - SP) autor, entre outros, do Projeto de Lei que regulamenta a profissão de paisagista em todo o território nacional. O parlamentar é também o responsável pelo projeto de combate às enchentes, com a utilização das calçadas permeáveis. Ele nos informou sobre a metodologia do debate que esclareceria dúvidas sobre esse projeto, que teve a redação de Eliana Azevedo. Elucidados e coordenados por João Jadão, presidente da ANP- Associação Nacional de Paisagismo, fomos a caminho do auditório onde o projeto seria discutido.

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De um lado, na mesa dos debatedores, em oposição ao projeto encontravam se: Jonathas Magalhães - presidente da ABAP- Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas; Haroldo Pinheiro Villar Queiroz - Presidente do CAU - Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil e a arquiteta Saide Kathouni.

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Do nosso lado: Eliana Azevedo, que atuou como presidente da Associação Nacional de Paisagismo no biênio 2008-2009; Isis Gurken, graduada em Composição Paisagística pela UFRJ e este missivista que lhes fala. Os trabalhos foram coordenados pela deputada federal Flávia Morais (PDT - GO). Na nossa frente, parlamentares, jornalistas, arquitetos e paisagistas formavam a platéia.

 

 

Sinceramente fiquei encantado com a polêmica e as discussões que serviam para reafirmar nossa posição, defendendo não apenas o direito de exercer a profissão daqueles que cursaram faculdades diferentes a das de arquitetura, mas também o nosso dever perante a sociedade de enriquecer as paisagens urbanas. Lembro que a arquiteta Saide Kathouni, disse que uma coisa era ser instrumentista e outra maestro, comparando o primeiro com o paisagista e o maestro com o arquiteto, em uma clara manifestação preconceituosa e improcedente já que, como lhe respondi, Paganini, o grande violinista italiano, foi também maestro-regente da mesma forma que João Carlos Martins e Roberto Minczuk que, além de tocar trompa, seu instrumento, já regeu mais de oitenta orquestras em quatro continentes.

Quando o arquiteto Jonathas Magalhães afirmou que: "... paisagismo é ligado à vegetação: isto é um equívoco" senti a necessidade de esclarecer que o equívoco seria desconsiderar o fato de nosso país possuir 19% de todas as espécies do planeta para poder controlar, através delas, fatores climáticos, crescimento demográfico e a poluição causada pelo trânsito de veículos. Afirmei que o conhecimento da flora nativa era indispensável à saúde pública na América Tropical e ao equilíbrio urbano de suas cidades densamente habitadas.

Penso que a Audiência Pública esclareceu a posição dos paisagistas especialmente depois de ouvir as considerações de Eliana abordando as vantagens da PL a toda a comunidade assim como o depoimento emocionado de Isis que relatou as sucessivas multas impostas pelo CREA, por ela exercer, pasmem!, o exercício ilegal da profissão (repito, ela é graduada em Composição Paisagística pela UFRJ).

Em fim, só resta continuar nosso empenho para o projeto ser aprovado, permitindo o exercício legal da profissão de paisagista, não apenas aos arquitetos que lutam pelo lobby, mas a todos aqueles que estudaram muito mais do que as 160 horas que a Universidade de São Paulo, USP, oferece em seu resumido curso da Arquitetura da Paisagem; outras faculdades de arquitetura resumem mais ainda esse tempo que toma pouco mais do que cinco semanas. O Curso de Graduação em Composição Paisagística da UFRJ tem uma carga horária de mais de 2400 horas voltadas ao Paisagismo.  Apenas 15 vezes mais que na USP”!

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As cores da pátria Verde, Amarelo, Branco e Azul - Foto Veja Abril