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“A natureza é um antídoto contra o stress”, afirma o paisagista Gilberto Elkis


Seu pai foi médico, você fez administração de empresas pela Mackenzie. De que forma você veio parar no paisagismo?

  Desde pequeno, eu sempre tive uma grande ligação com a natureza. Quando eu tinha oito anos, eu fiz uma viagem com a família no Litoral Norte, entre o Guarujá e São Sebastião. Naquela época, o passeio durava o dia inteiro, já que só havia estrada de terra. Isso aconteceu por volta de 1969. Foi o primeiro contato mais intenso e mais próximo da Mata Atlântica. Eu fiquei fascinado, louco e naquele exato instante eu me lembro de ter pensado: “eu vou trabalhar com plantas”. Falei para os meus pais que eu iria trabalhar com plantas. E desde então, eu sempre tive grande interesse. Aí quando surgiu, no primário, a história de Feira de Ciências do Colégio, que hoje em dia é a Casa Cor (risos), eu costumo fazer essa analogia. Estudei no colégio Bandeirante, e no colegial eu tinha uma matéria que era focada em botânica. E aí eu me envolvi bastante, adorava as aulas, me interessei muito, lia bastante e fui muito bem em botânica. Prestei vestibular para biológicas, não entrei, e daí eu prestei para administração, entrei, fiz administração e aí eu fiz alguns trabalhos no decorrer, até que eu fui aos EUA para aprender inglês. Lá eu conheci um amigo que era paisagista e ele trabalhava numa empresa grande, que desenvolve projetos, execução, planejamento e vendas de plantas para os Estados Unidos todo, chamada Evergreen. Por intermédio do meu amigo, estagiei na Evergreen e quando eu voltei ao Brasil eu falei: “o que eu vou fazer da minha vida é o paisagismo, é isso que eu quero”. Naquela época, em 1988, 1989, o paisagismo de fato não tinha campo nenhum aqui no Brasil, zero. Era muito restrito, porque as pessoas não valorizavam, não acreditavam que o paisagismo precisava de um projeto, paisagista era jardineiro e tinha até uma dificuldade em pessoas de nível, não de formação, claro, mas de conhecimento sobre o setor. Para se ter uma ideia, quando eu me apresentava para os amigos e eles perguntavam: - o que você faz? Eu dizia paisagismo! E eles: mas o que é paisagismo? Então existia essa falta de conhecimento de fato. É óbvio que o paisagismo é cultural e é através de cultura que se aprende. Então você vê que o inglês, por exemplo, gasta um dinheiro significativo no paisagismo de sua residência e ele não muda pra casa, ele constrói a casa, ele faz o paisagismo, ele deixa o jardim “ter cara”, daí leva os móveis e tudo, para daí sim mudar. Perante a vizinhança, irão achar que ele não é um cara legal se ele não tiver um jardim. Então, o jardim na Inglaterra além de tudo que nós já falamos, existe um status social em função do jardim que a pessoa tem. Tanto é que o Chelsea Flower Show (maior feira de jardins e jardinagem do mundo) www.rhs.org.uk, é o sucesso que é reunindo milhões de visitantes que o evento recebe todos os anos. O mercado de paisagismo está crescendo muito aqui no Brasil, óbvio que nós temos estatísticas que comprovam isso, mas o grande problema que continua tendo é a falta de cultura, e isso se deve muito ao nosso governo, aos nossos governantes, de não formalizar e de não legalizar a profissão. Isso é realmente uma lástima. O MEC não reconhece o paisagismo como profissão e aí qualquer um é paisagista, porém, a função do paisagista é enorme e acho que de uma responsabilidade gigante, tanto quanto a de um calculista, por exemplo, se o calculista não fizer o cálculo correto, a edificação cai, e a casa cai, literalmente (risos).

Você tocou na questão da formação de um profissional. E como foi a sua formação?

  Minha formação foi autoditada. Eu fiz o estágio na Evergreen, e quando eu retornei ao Brasil, o único curso que existia aqui era o “Manequinho Lopes”. Fiz o curso do Manequinho e daí em diante eu fui autodidata. Busquei o conhecimento através de viagens, observação, leitura, que na verdade você tem que estudar, com professor ou sem professor. Errando e aprendendo ou acertando e aprendendo também.

O que você costuma priorizar em seus projetos?

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  Bom, o que penso com relação aos meus projetos é que eu sempre tento entender o que o meu cliente deseja. Apesar de estar criando o projeto, não sou eu que vou usar esse jardim. Então eu tento entender o máximo do que esse meu cliente quer e o que ele gostaria e daí adaptar o que é possível, o que não é possível, dentro do espaço que ele tem. Mas eu sempre penso e acho legal quando dá para ter os dois, que é a contemplação e o uso. Porque existe o jardim contemplativo e o jardim de uso, mas eu acho que se você consegue conciliar a contemplação e o uso, você tem dois em um, o que é mais interessante.

De que forma o paisagismo pode contribuir para melhorar a qualidade de vida das pessoas?

  Primeiro de tudo, sabemos que a natureza é um “antídoto” contra o stress. O contato com a natureza é maravilhoso. Você conseguindo atingir os sentidos do homem através da natureza, através de um jardim, não necessariamente, pode ser através de um terraço, numa varanda, numa cobertura, ou num macro espaço, numa cidade, por exemplo. Se você olha o jardim e já te “enche os olhos”, é interessante. Se você tem pássaros, você está escutando. Se você tem oportunidade de tocar em algo ou mesmo colher um fruto, você já tem o tato, coloca na boca, remete ao paladar. Automaticamente você tem o cheiro das frutas, o cheiro das flores. Todos esses sentidos que o paisagismo possibilita dessa maneira, eu acho que ele acaba tornando-se uma arte. O paisagismo é uma arte bastante complexa, por isso, ele mexe com os sentidos das pessoas. Você vê um quadro, por exemplo, é uma arte maravilhosa, mas você não tem os cinco sentidos. Você observa uma escultura, também é arte também, o cinema também, o teatro também, a música também, mas o paisagismo eu considero uma arte, que é muito sublime porque ela consegue fazer com que os cinco sentidos sejam atingidos. Então a capacidade do profissional de conseguir fazer isso é bastante interessante.

Você teve a oportunidade de conhecer inúmeros países, inclusive atuando profissionalmente. Qual deles você mais gostou e por quê?

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  Não existe o que eu mais gostei. O bacana é que estou vivendo, aprendendo e cada viagem é uma experiência, é uma sensação. O mundo é encantador! A África é maravilhosa, a Ásia, o velho mundo e a Europa, também são maravilhosos. A América é maravilhosa. É difícil de falar o que eu mais gostei. Eu gosto de tudo. A comida é legal, o povo, o idioma, a moeda local, a vegetação, o clima, o meio de transporte, enfim. Recentemente eu fui para o Vietnã, e para cada carro, tem cem motos. No país, têm três filas de carro, três filas de moto, três pistas de moto para uma de carro. Lá é outro planeta. Eu que piloto motos, adorei aquilo (risos). Só não sei como é que eles conseguem se entender. A comida no Vietnã é maravilhosa, por outro lado, eu tive na China e a culinária de lá não me agradou nenhum pouco. Em compensação o povo lá é muito legal, de uma cultura milenar e agora eles estão “mandando no mundo”, então nós ainda temos muito que aprender. Então é difícil de falar exatamente de um lugar. Se eu falar de vegetação, na Europa a vegetação é maravilhosa, uma vegetação que tem o inverno, tem todo um ciclo das estações que são completamente diferentes de um país tropical, como é caso da Indonésia, do Brasil, enfim. Então, se você me perguntar qual a árvore que eu mais gosto, eu vou responder: - a que está mais florida. O Flamboyant florido, por exemplo, tem coisa mais bonita? E depois o Ypê. E depois a Quaresmeira e aí vai...

Em termos de projetos internacionais, qual você destaca?

  Todo projeto que eu executo, eu faço com bastante carinho e bastante amor, então o que eu estou fazendo é o que eu acho o mais legal. Gosto de destacar o atual. Gosto de todos os meus projetos, pois cada um tem a sua particularidade. Cada um é um cliente. Cada um teve a sua história de inspiração. Cada um tem o seu charme e a sua beleza. Os projetos que eu fiz na Suíça, nos EUA também e o que eu fiz no Chile, foram bem legais. Embora sejam coisas completamente distintas que não dá para falar. Tanto é que sempre temos dificuldades para escolher as fotos quando o projeto é finalizado. Uma história que é bem legal e inédita e que me tirou noites de sono foi o projeto que eu fiz no hotel Unique, em São Paulo, que tem a piscina vermelha. Quando eu inventei a ideia de fazer a piscina vermelha, todo mundo ficou contra. O arquiteto, o decorador, enfim. O único que topou foi o Jonas, que é o proprietário do hotel. E aí quando terminou a reunião em que eu havia sugerido a piscina vermelha, o arquiteto João Armentano falou: - “Gilberto, você está louco. Você vai acabar com o seu nome. Pensa direito nisso”! Aí eu vim para o escritório e falei com o pessoal e perguntei: “- Será? Sim? Não? O que irão pensar? Daí chegou o dia em que eu teria que encomendar o vidrotil, e aí eu teria que assinar o pedido. Eram cerca de 400 m de vidrotil e a empresa me ligou perguntando se realmente eu iria precisar daquela quantidade, pois se juntasse o que eles já tinham fabricado em todos os anos de mercado, na cor vermelha, não chegaria perto dessa quantidade (risos). Eu confirmei que sim, na maior insegurança. O projeto foi o maior sucesso, a revista Wallpaper classificou como a piscina mais bonita do mundo.

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Então a ousadia faz parte de sua característica. Você gosta de ousar?

  Eu gosto. Gosto de ousar, de inovar, porque eu acho que existe um espectro tão grande de possibilidades, que acho que é uma dádiva, a palheta é tão infinita de tudo, porque não inovar e fazer coisas novas?

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Cite outros projetos que você gostou de desenvolver?

  Tem um que eu fiz nos Hamptons, nos EUA, no litoral de NY, que é uma serpente de pedra com cerca de 40 m no meio do jardim, foi um trabalho bastante interessante que eu fiz. Destaco também uma cobertura nos Jardins, em SP, que tem uma piscina preta, que fica “flutuando” no espaço e não dá para entender. Ficou demais! Alguns trabalhos de Casa Cor também são projetos maravilhosos. O “Jardim das Ruínas” lá na Cinemateca também foi um trabalho que eu curti bastante e ficou muito bacana. A Casa Cor de 1991, que eu coloquei uma Vitória Régia, num espelho d água, foi bastante comentado também.

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Quais espécies de plantas você costuma utilizar em seus projetos?

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  Eu tenho “fases de plantas”. A Tuia Jacaré, que eu vi uma vez no Ceasa, eu comprei todas de um fornecedor. Fui lá e comprei uma e coloquei em um lugar e pensei: "- nossa essa planta é demais". Voltei lá e perguntei ao fornecedor: - quantas você tem? Ele respondeu que tinha 400 eu falei: - quero comprar as 400. Ele titubeou, mas acabou cedendo. Coloquei tudo na Casa Cor. No dia seguinte todo mundo queria comprar, porém, não tinha mais (risos). Acabei colocando elas em meus projetos. Têm várias árvores, arbustos, forração, enfim, eu gosto de todas. Não tem uma planta que eu na goste mais ou menos.

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Como você vê o mercado de paisagismo com relação às mostras e as feiras de negócios do setor?

  Em relação ao paisagismo, nós temos a Fiflora que é uma feira super legal. Este evento é idealizado pelo Teodoro Henrique da Silva, que é um batalhador e eu acho que o paisagismo nacional deve muito a ele, pois o trabalho que ele faz é bastante importante para toda a classe de paisagistas. Acredito que o setor esteja em ascensão total. Cada ano que passa, o evento está maior, mais bonito, enfim e um dia ainda seremos melhor que o Chelsea. Existem também outras mostras que acabam agregando o paisagismo, como acontece com a Revestir, a Casa Cor, que também conta com espaços bastante significativos. A inserção do paisagismo no mundo da arquitetura vem a agregar. A arquitetura é um quadro e o paisagismo é a moldura, um contempla o outro. Se você tem uma obra de arte e ela não está bem emoldura, ela não vai estar legal e vice-versa. Eu acho que a contribuição do paisagismo para a arquitetura é muito importante.

Com relação aos móveis e acessórios, o que você costuma inserir em seus projetos? 

  Neste caso, vai depender da disponibilidade financeira do cliente. Porque hoje em dia nós temos móveis para a área externa que começa em “X e vai até vinte X”. Atualmente aqui no Brasil nós temos uma gama de móveis bastante interessantes de inúmeras marcas conceituadas, que possibilitam um excelente custo-benefício. O mercado nacional conta com uma grande variedade hoje em dia. O móvel da área externa exige mais manutenção, por isso que a história da fibra sintética, que virou um “boom”, tem conquistado uma parcela do mercado bastante significativa.

Você pretende lançar seu próprio livro?

  Na realidade eu já estou fazendo. Será uma publicação específica sobre projetos. Quero mostrar vários projetos, com um riquíssimo conteúdo visual, muito mais visual do que didático. Porque eu acredito que o paisagismo é visual. Foi feito para ver. Será a oportunidade para que as pessoas visualizem jardins maravilhosos. E tem cada um...

Muitas pessoas, como você mesmo disse, por questões culturais, desconhecem e não entendem os reais benefícios de um projeto de paisagismo. De que forma você faz com que elas entendam esse conceito?

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  Elas precisam entender que o paisagismo é toda a área externa e não são somente plantas. É a piscina, a circulação, o acesso, é a divisão, os muros, o lazer. Envolve toda a arquitetura externa. O jardim deve ir além da contemplação, mas acima de tudo, sua função deve estar atrelada ao seu uso. Se você quiser você quiser dar uso ao jardim, então você precisa de um projeto, para que a pessoa não tenha só manutenção. Através do projeto de paisagismo, a pessoa se sente bem. Tem o barulhinho da água que é uma delícia, tem o visual de um espelho d água, tem o jardim noturno, que eu considero tão bonito quando o jardim diurno, ou até mais, sendo bem iluminado, você consegue efeitos a noite que você se surpreende, deixando o projeto ainda mais bonito que durante o dia, pois você tem a opção de iluminar somente aquilo que você quiser evidenciar. Há muitos truques para você valorizar o projeto de várias maneiras diferentes. Algo que diferencia o meu projeto é a maneira como eu divido ele. Eu faço em duas etapas completamente distintas, que é o projeto e a execução. O projeto é dividido em duas etapas aonde eu elaboro o anteprojeto e o projeto executivo. No anteprojeto, eu o faço de forma manual, colorido com perspectivas, de uma maneira hiper-realista. Então, o meu cliente consegue visualizar de maneira clara e objetiva o que eu irei propor a ele. Faço essa apresentação para o cliente não ter dúvidas. Eu não consigo desenvolver um projeto, sem ir num lugar, sentir a atmosfera, me localizar dentro do local que será executado o trabalho. Também não consigo elaborar o projeto se eu não conhecer o meu cliente. Por isso eu procuro entrevistá-lo, saber o que ele quer e o que ele não quer. Muitas vezes ele nem sabe o que quer e nem o que ele na quer, simplesmente ele não sabe. Mas eu tenho essa função e, por isso, que ele está me contratando, eu tenho o objetivo de absorver e tirar dele, de que maneira ele vai se sentir mais feliz. Eu acho que isso que é o grande produto, a grande realização de um projeto é quando você faz o seu cliente feliz. Quando você vê um cliente feliz, eu acho que é sem dúvida a grande recompensa do trabalho.

Em sua opinião, o que está em alta no paisagismo?  

  Fazer projeto (risos). Fazer projetos, porque daí o cliente ao contratar o profissional, está economizando e acho que essa é uma palavra fundamental, porque ele sabe o que ele vai fazer, ele tem previsões do que vai acontecer, não tem surpresas. Do contrário é uma “caixinha de surpresas”. A obra em si já é uma caixa de surpresas. O jardim sem projeto é um “caixão de surpresas”. Tem um ditado que é bastante interessante: o que é mais importante: o médico ou o paisagista? Quando o médico erra a terra cobre. E quando o paisagista erra? A terra morre. Então o paisagista é mais importante (risos).

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O paisagismo possibilita contribui para a melhora na qualidade de vida das pessoas. Como é que você percebe a necessidade de ter mais verde numa cidade onde só existe praticamente concreto, que o caso de São Paulo?

  A cidade de São Paulo não tem projeto de urbanismo. As cidades necessitam dos projetos de urbanismo para crescer em função da necessidade do homem. Só que São Paulo foi crescendo de uma maneira desordenada e onde se tem árvores, se tira, por isso, que a cidade é caótica. Embora este cenário esteja melhorando, porém, poderia melhorar ainda muito mais.

No ranking de buscas da revista eletrônica www.paisagismoemfoco.com.br seu nome figura como um dos mais procurados. A que você atribui todo esse sucesso?

  Talvez, por eu ter inovado várias coisas e graças a Deus ter dado certo. Acho que as pessoas admiram essa inovação e acho que qualquer pessoa pode alcançar o sucesso. Basta fazer o que gosta e principalmente: fazer com amor. Eu faço o paisagismo com muito amor, pois eu adoro o que eu faço. Tive o privilégio de conseguir conciliar a profissão com o lazer e com a realização de vida.

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Você também é muito conhecido, por ter realizado projetos nas residências de inúmeras personalidades. Cite alguns nomes?

  Já fiz projetos para Ana Maria Braga, João Dória Jr., Malu Mader, Eliana, Otávio Mesquita, entre outros. Na realidade eu acho que não foi bem isso que elevou o meu nome no mercado. Mesmo porque, a maioria dessas personalidades não são pessoas que têm a casa de uma maneira tão exposta para divulgar e sociabilizar o meu trabalho. Através da minha participação em Casa Cor, Artefacto, Fiaflora, entre outros eventos, o meu trabalho foi muito mais evidenciado. A divulgação na mídia em geral, também é extremamente importante para a propagação do trabalho, incluindo a mídia eletrônica.

A Casa Cor foi um “divisor de águas” para o seu reconhecimento profissional?

  Foi, com certeza. O evento contribuiu bastante na minha carreira profissional.

Gostaria que você apontasse os pontos positivos e  os negativos da profissão?      

  Positivo: primeiro que se trabalha com a natureza, que já é uma dádiva. Também é muito bom fazer as pessoas felizes. Já o ponto negativo é quando algum cliente não dá valor para sua planta, por exemplo, é algo bastante desagradável, sem dúvida. Ver uma planta morrer ou ser maltratada corta o meu coração. Mas graças a Deus 99,9% dos meus clientes tornam-se meus amigos. Acho isso um super presente.

O mercado de paisagismo no Brasil está em seu melhor momento ou caminha para o seu melhor momento?

  Ele está em crescimento. Não deve estar no seu melhor momento, pois ele ainda não atingiu o seu ápice, muito menos está longe do declínio. Ele está em altíssimo crescimento, mas não diria que estamos no auge. Diria que ainda temos muito mais para crescer, astronomicamente, se compararmos com os EUA, com a Europa, ainda estamos engatinhando. O paisagismo tem uma família de agregados, ele é a mãe da história, mas os agregados são gigantes: temos a produção de plantas, iluminação, tem a irrigação, pavimentação, móveis, enfim. Para se ter uma ideia, o transplante e o transporte de árvores adultas, palmeiras, enfim, começou há pouco tempo. As primeiras palmeiras a serem transplantadas aqui em SP, de porte adulto, foram àquelas palmeiras imperiais do hotel Unique. Tive que ser bastante ousado para transportar onze palmeiras com cerca de 15 m cada. Tivemos que pedir autorização para o DSV, fechar a Brigadeiro Luis Antônio, onde precisamos utilizar um mega guindaste e começou a partir daí o transplante de plantas de porte adulto e atualmente isso se tornou algo corriqueiro. Nos EUA você compra árvore de 70 mil dólares, só a planta. Aí você coloca mais 70 mil só para fazer o transplante, todo o maquinário, mais a garantia, enfim. Ou seja, o mercado por aqui ainda vai crescer – e muito!

Atualmente há uma discussão a respeito da profissão, principalmente no que diz respeito a ABAP (Associação Brasileira de Arquitetos e Paisagistas e a ANP (Associação Nacional de Paisagismo). Uma defende que precisa ser arquiteto para projetar, a outra entende que o paisagismo não necessita somente do arquiteto, enfim. Qual a sua opinião a respeito disso?

DSC03758  Eu acho que está tudo errado. Acredito que precisa existir uma faculdade para formar os profissionais em paisagismo. O que a ANP está fazendo é muito legal, pois ela está desmascarando a ABAP, que quer segurar e abraçar a causa como a dona do paisagismo, quando não é verdade. Porque se não é regulamentado, então não é de ninguém, então vamos regulamentar, só que eles não conseguem regulamentar. Isso é um processo longo.

Que dica você pode deixar para os novos profissionais que pretendem seguir a carreira de paisagista?

  Primeiro de tudo persistir. Seja lá qual for a profissão. Acho que a persistência é fundamental, porque não é nem em um, nem dois, nem três, nem quatro, nem em cinco anos que você vai ser reconhecido. Você precisará de alguns anos. Em cinco eu acho que você vê a “luz no fim do túnel”. Em dez, você começa a colher frutos. Como eu trabalho com a natureza eu diria que você precisa plantar, depois precisa regar bastante, precisa florescer, daí vêm os frutos, daí sim você poderá provar o fruto. Isso é um processo que serve para todas as áreas. Não adianta uma pessoa achar que vai plantar hoje e comer fruto amanhã. Não, tem que persistir seja no que for. No paisagismo mais ainda, porque trabalhamos com um ser vivo, então temos que aprender com o tempo e demora, porque em um ano, são quatro estações e será necessário ao menos uns dois ou três anos para se observar o desenvolvimento de uma planta, a sua adaptação e enfim. Temos que ter paciência e o que é fundamental no paisagismo: a observação. Tem que observar a natureza, que é uma tarefa um tanto quanto abrangente. O paisagismo é uma profissão que requer tempo, experiência, eu diria assim, como um bom médico. Existe um bom médico recém-formado? Ele pode até levar jeito para a medicina, mas ele precisa da experiência.

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Imagens: Arquivo pessoal / Reportagem Paisagismo em Foco