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As crises hídrica e econômica no paisagismo nas opiniões dos nossos colunistas


É sob essa ótica que entrevistamos nossos colunistas para saber a opinião deles a respeito das crises Hídrica e Econômica que estamos passando e quais as estratégias adotadas para driblarem esse cenário desfavorável. As respostas vocês conferem abaixo:

 

Benedito Abbud

A crise econômica está trazendo uma nova realidade para o mercado imobiliário.

benedito abbud crise hidrica

A atual situação econômica do País causou uma diminuição no ritmo de lançamentos imobiliários e paralização de alguns projetos em andamento. Sendo assim, hoje encontramos imóveis prontos competindo com a venda de imóveis sendo lançados.

Desta forma, o resultado final da obra passa a ser ainda mais importante no momento da compra: como o paisagismo é muito visível e um dos principais elementos que gera encantamento nos compradores, acho que seu papel deverá ser ainda mais valorizado e os cuidados com a sua execução devem aumentar.

Também creio que o mercado de plantas grandes, sangradas e preparadas para o plantio vai ter maior demanda. Talvez as plantas envasadas tenham mais procura que as de raiz nua. Estas são mais baratas mas não causam impacto inicial no jardim que agora será fundamental para estimular a venda.

Por outro lado, cuidados como reservar plantas em viveiros no início do processo do projeto, ainda antes da época do lançamento, vão começar a ser prática comum, como hoje já acontece nos Estados Unidos.

Quanto à crise hídrica e a forma como se relaciona com o urbanismo e paisagismo, acredito no papel importante do planejamento da arborização, na maximização do reuso adequado de água, e na pesquisa de novas formas de tratar a vegetação nos espaços urbanos como mecanismos valiosos na minimização dos problemas relativos ao uso da água.

O jornal Estado de São Paulo publicou em 22/02/15 com o título “Sob ameaça, Cantareira precisa de 30 milhões de árvores ao custo de R$ 195 milhões”, mostrando a urgência de reflorestar as margens dos corpos d’água que fazem parte desse sistema.

01 Abbud Perspectiva Parauapebas PA 3

A arborização melhora a infiltração e a qualidade da água , pois a mata ciliar minimiza as erosões e o carreamento de detritos para as águas e aumenta o lençol freático que vai alimentar os corpos d’águas.

Se esse trabalho de reflorestamento for feito no sistema Cantareira, podemos planejar a utilização dessas áreas para o lazer da população. Um uso organizado e disciplinado não traria problemas para as águas, traria melhorias para a qualidade de vida dos usuários e seria ainda mais um aspecto positivo de tal medida.

Outro problema da crise hídrica está ligado a falta de umidade do nosso solo urbano. O sistema tradicional de drenagem hoje existente canaliza a água de chuva levando-a para longe e deixando o solo seco.

Esse sistema está sobrecarregado pela grande impermeabilização causada pelo crescimento da cidade e apresenta entupimentos por falta de manutenção. O resultado são as enchentes que tanto castigam os moradores das áreas baixas.

Temos então dois fenômenos opostos ao mesmo tempo: seca somada a inundações, o que não deixa se ser uma contradição.

Uma forma de melhorar o problema é captar, filtrar, infiltrar ou reservar a água na origem ou seja, na área onde a chuva cai.

01 Abbud Projeto Benedito Abbud Cidade Jardim RJ

Para isso existem as infraestruturas verdes e também os sistemas de drenagem sustentáveis.

Fazem parte das infraestruturas verdes:

- Os pisos permeáveis - Que tornam possível a pavimentação sem impermeabilização.

É um pavimento feito a base de material poroso assentados sobre coxim de areia, permitindo que até 90% da água penetre no solo.

- As biovaletas

- São valas lineares para condução e infiltração das águas de chuva. Contém vegetação rasteira e que suportam alagamentos para limpar a água, reduzir o fluxo e evitar erosão.

- Os Jardins de chuva

São depressões na topografia, em geral com largura significativa para receber, tratar e infiltrar as águas de chuva.

- Lagoas pluviais (cacimbas)

São depressões construídas nas áreas baixas do terreno para o acúmulo de águas, minimizando enchentes (piscinões a céu aberto).

- Tetos verdes

São coberturas de edificações plantadas. São importantes pois ao contrário das coberturas impermeabilizadas, absorvem água das chuvas e podem armazená-las.

- O Sistema Urbano de Drenagem Sustentável utiliza material plástico de lixo reciclado, exige baixa manutenção, tem a função de filtrar, transportar, reter, infiltrar armazenar águas pluviais sem degradar a qualidade das águas captadas. Em geral são subterrâneos, podendo não aparecer na paisagem como as infraestruturas verdes.

Esse sistema apresenta dois componentes básicos:

Células de captação , transporte e filtragem das águas pluviais

São placas com células abertas em todas as direções, com espessuras variadas para transportar, filtrar, e infiltrar parcialmente água das chuvas.

Colméias subterrâneas

O sistema de Colméias são vazios subterrâneos feitos para retenção, infiltração, reserva temporária (piscininha - com infiltração no solo ou não). Quando o sistema é montado e revestido por manta impermeável serve como reservatório para reuso ou até piscinões. Aguentam carga de tráfego podendo estar sob estacionamentos, ruas ou calçadas.

Para o uso desses sistemas é fundamental haver projeto. Nesse projeto, para que a solução seja satisfatória, deverão ser verificados o tipo de solo, topografia, tipo de vegetação, etc. Assim será criada uma equipe formada pelo paisagista e outros profissionais, configurando a multidisciplinaridade que caracteriza a nossa profissão.

Marcelo Faisal

Já ha alguns anos, venho me preocupando muito com a falta d’água no planeta.

marcelo faisal crise hidrica

Diante deste cenário, meus projetos sempre priorizaram espécies mais resistentes a necessidade d’água, a ponto de classificar meus jardins de Semi Áridos.

Logicamente, tive muita resistência e perdi mercado, pois o mercado que é leigo desejava sempre jardins ricos e floridos. Hoje a realidade é outra.

Capins, agaves, dracenas, fórmios e espécies mais agressivas, são bem vistas e dominam o cenário paisagístico mundial, sempre respeitando as condições climáticas.

MARCELO FAISAL CASA COR 2013

Quanto a crise econômica, minha saída foi reduzir o tamanho da minha empresa, desacelerar a ação no mercado corporativo, focando no mercado residencial de luxo, com ênfase na segunda moradia que está fora da cidade de São Paulo.

Com esta atitude, pude resgatar minha origem profissional, trabalhar com muito mais paixão e ainda aumentar minha margem de lucro. Isto sem falar do conforto emocional que é diminuir minhas relações com empregados e leis trabalhistas.

No lado de produtor, minha saída foi promover uma venda especial com redução de 40 a 60% dos preços praticados, garantindo receita e fluxo na produção.

Raul Canovas:

De fato enfrentamos um ano de incertezas. Alta do dólar, crise hídrica, Bolsa de Valores em queda, recessão econômica, perplexidade política... Mas ao invés de ficar esperando pelos colapsos, proponho que nos preparemos para superá-los.

paisagista raul canovas

Em primeiro lugar conscientizando as pessoas - e especialmente os profissionais do setor de paisagismo - de que, embora o Brasil tenha água de sobra, sua distribuição está comprometida. É interessante destacar que a Represa Billings, em São Paulo, possui uma área de drenagem de 1560 km² (o município de São Paulo tem 1.523 km²), porém, suas águas estão poluídas.

Precisamos deixar claro que o bioma amazonense é o responsável, em grande parte, pelas chuvas na região Sudeste, já que os ventos carregam as nuvens que são formadas pela transpiração das árvores, elas evaporam, em um único dia, 20 trilhões de toneladas de água, segundo informou Antonio Nobre, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). Os paisagistas devem saber que uma árvore de grande porte pode vaporizar mais de mil litros de água por dia. Este "rio voador", conforme informa Nobre, sai para a atmosfera na forma de vapor, e é maior que o maior rio da Terra, comparando o potencial de chuvas da Amazônia às 17 trilhões de toneladas de água que o Amazonas lança todos os dias no Oceano Atlântico.

Mesmo assim sofremos com a falta do precioso líquido, já que o desmatamento nesse bioma, nos últimos meses de agosto e setembro, alcançou 1.626 km² de florestas, um crescimento de 122% sobre os mesmos dois meses de 2013.

Raul Canovas Projeto

Aquífero Guarani é outro recurso a ser melhor explorado, ele mataria nossa sede brasileira nos próximos 25 séculos, sem esgotá-lo.

Falando em São Paulo (cidade onde moro), ela perdeu, nas últimas 3 semanas, mais de 800 árvores por falta de manutenção sanitária vegetal.

A cidade possui 35 mil km de calçadas e deveria ter 5 milhões delas sombreando ruas, absorvendo a água das chuvas e produzindo oxigênio suficiente para seus quase 12 milhões de hab. Tem apenas 20% desse número. Sem árvores não teremos chuvas...nem água para beber, nem ar para respirar.

É por esses e outros motivos que o paisagista deve fazer sua parte utilizando conceitos de xerojardinagem nos seus projetos. Esses jardins, que inicialmente eram planejados com plantas de deserto, em Denver, Colorado, usam hoje outros recursos economizando regas, fertilizantes, defensivos e energia, graças às ideias sustentáveis. Isto repercute favoravelmente nos custos de implantação e manutenção dos jardins públicos e residenciais.

Rafaela Novaes:

Primeiramente, procuro estudar o clima do jardim e conhecer a rotina do local em que vou executar o projeto paisagístico, para saber quais são as plantas indicadas. Existem muitas plantas que são exóticas e são muito bem adaptadas ao nosso clima, mesmo nesse período de estiagem. Então, acabo optando por elas. Não defendo apenas o uso de espécies nativas no jardim. O plantio de árvores é outra solução que acho bacana, pois além de nos darem sombra, a árvore pode transpirar até 60 litros de água por dia pelas suas folhas.

Rafaela Novaes

Outra estratégia é sempre avaliar se realmente é necessário irrigar alguma parte do jardim. Sinto a terra uns dois ou três centímetros abaixo da superfície e vejo se ela está realmente seca. Em jardins já bem desenvolvidos uma irrigação de duas ou três vezes na semana é suficiente. Para jardins recém-implantados quatro ou cinco vezes é o ideal, dependendo das variedades de espécies.

O sistema de irrigação automatizada para rega dos jardins é uma solução, por ser mais sustentável. Com uma programação inteligente e regulagem correta, as plantas recebem a quantidade correta de água sem nenhum desperdício. Sem falar que muitos desses sistemas têm controladores de umidade que regulam automaticamente a quantidade de água a ser usada no dia. Por exemplo, se chover o sistema não irriga naquele dia. O mais legal é a implantação da irrigação, que é cada vez mais acessível e prática. É um investimento muito interessante tanto para casas em construção como para casas já pronta. O jardim fica verdinho e economiza água.

Ambiente da Campinas Decor Rafaela Novaes 3

Colocar recipientes próximos às calhas é a opção mais simples de se fazer. Essa água pode ser reutilizada sem o menor problema para as regas do jardim. Na minha casa estamos fazendo isso e usando o regador para molhar o jardim.

Monique Briones

Um dos grandes impactos que encontrei ao começar a realizar jardins na Espanha foi o tema da economia de água.

monique briones crise hidrica

Aqui a situação sempre foi de racionamento inteligente do consumo de água. E não devido a uma má gestão desse bem natural, e sim porque aqui o clima é outro. A quantidade de chuva anual é bem menor e não temos tantas florestas e matas ciliares que ajudam a conservar e reduzir a evaporação.

Aqui todos os jardins têm um sistema de irrigação. Irrigação por gotejamento para plantas e arbustos e irrigação por aspersores e difusores para zonas de gramado. Com isso o uso da água é inteligente, controlado e calculado por estações, evitando um desperdício desnecessário. Também se usam muito os poços artesianos, já que existe uma grande quantidade de água em lençóis freáticos.

Jardins em espacos pequenos Monique Briones 7

No ano de 2007 em Barcelona muita gente perdeu o gramado inteiro porque simplesmente não havia água para irrigação e as prefeituras estipularam alguns limites de consumo. Mas também tenho que dizer que a diferença entre Brasil e Espanha nesse aspecto é que aqui existe uma cultura de economia de água desde sempre. Aqui jamais vi alguém lavar a calçada ou até mesmo o carro na frente de casa.

No paisagismo, os clientes entendem quando é necessário usar elementos como o cascalho para reduzir as zonas de gramado e sempre temos preferência pelas plantas que tem uma baixa necessidade hídrica.

Por isso uma das características mais fortes do paisagismo na Espanha e o que faz com que um paisagista seja um bom profissional, é que ele saiba desenhar jardins que tenham um baixo consumo de água. Respeitando assim esse bem natural tão precioso.

Luiz Felipe e Luiz Gustavo:

Luiz Felipe e Luiz Gustavo

Nosso maior trunfo é trabalhar com o verde. Todos sabem, ou deveríamos saber, ​que o que afeta diretamente sobre as questões climáticas e ambientais é a falta de vegetação, nosso dever é incentivar o plantio de mais árvores, se quisermos um futuro com mais qualidade de vida e conforto ambiental. Desta forma ​convencemos nossos clientes a continuar plantando.

Coluna Luiz Felipe e Luiz Gustavo Vasos e canteiros dão o clima de quintal a este apartamento de cobertura Projeto Folha Paisagismo

Carol Costa:

O colapso hídrico é grave, envolve muitos fatores, mas pode ser superado se mudarmos a maneira como lidamos com a água. Há muitas ações práticas que podemos adotar no jardim e que reduzem bastante o desperdício. Veja só:

Carol Costa Jardinaria2

- Regas as plantas ao final do dia, quando é menor a evaporação e as raízes podem aproveitar mais a umidade.

- Manter o gramado mais alto, para não expor o solo à incidência solar direta.

- Tirar os vasos de ganchos e correntes suspensas e agrupá-los no chão, criando conglomerados de vapor.

- Incorporar vermiculita à terra – essa medida mantém os vasos até três vezes mais úmidos.

- Plantar árvores nativas, de preferência frutíferas, em todos os espaços que puder, do quintal à calçada.

Rain Bird 1

Agradecemos a todos os colunistas pela colaboração

Att.

Equipe Paisagismo em Foco

Rafaela Novaes:

Primeiramente, procuro estudar o clima do jardim e conhecer a rotina do local em que vou executar o projeto paisagístico, para saber quais são as plantas indicadas. Existem muitas plantas que são exóticas e são muito bem adaptadas ao nosso clima, mesmo nesse período de estiagem. Então, acabo optando por elas. Não defendo apenas o uso de espécies nativas no jardim. O plantio de árvores é outra solução que acho bacana, pois além de nos darem sombra, a árvore pode transpirar até 60 litros de água por dia pelas suas folhas.

Outra estratégia é sempre avaliar se realmente é necessário irrigar alguma parte do jardim. Sinto a terra uns dois ou três centímetros abaixo da superfície e vejo se ela está realmente seca. Em jardins já bem desenvolvidos uma irrigação de duas ou três vezes na semana é suficiente. Para jardins recém-implantados quatro ou cinco vezes é o ideal, dependendo das variedades de espécies.

O sistema de irrigação automatizada para rega dos jardins é uma solução, por ser mais sustentável. Com uma programação inteligente e regulagem correta, as plantas recebem a quantidade correta de água sem nenhum desperdício. Sem falar que muitos desses sistemas têm controladores de umidade que regulam automaticamente a quantidade de água a ser usada no dia. Por exemplo, se chover o sistema não irriga naquele dia.  O mais legal é a implantação da irrigação, que é cada vez mais acessível e prática. É um investimento muito interessante tanto para casas em construção como para casas já pronta. O jardim fica verdinho e economiza água. 

Colocar recipientes próximos às calhas é a opção mais simples de se fazer. Essa água pode ser reutilizada sem o menor problema para as regas do jardim. Na minha casa estamos fazendo isso e usando o regador para molhar o jardim.