O paulistano e o verde da cidade de São Paulo, por Benedito Abbud
- Benedito Abbud
Diz a lenda que durante a segunda guerra mundial, a atriz alemã Marlene Dietrich teria dito que mesmo se Berlim fosse destruída, enquanto houvessem linden (Tilias), Berlim ainda seria Berlim!
Tilias na Unter den Linden, Berlim
A vegetação de São Paulo não se caracteriza pela grande homogeneidade, como algumas cidades europeias, nem por grandes maciços heterogêneos, como o caso do Rio de Janeiro, cidade que possui a maior floresta urbana do mundo com rica diversidade de mata atlântica.
Aqui é preciso lupa para achar as manchas verdes no nosso mapa. Foi assim, debruçado em fotos aéreas em branco e preto, muitas vezes desatualizadas, que participei de um grupo de estudos e descobrimos o mosaico da vegetação significativa do município de São Paulo. Trabalho realizado em 1985, que agora, fico feliz em saber que a prefeitura pretende retomar e atualizar.
Parque Dom Pedro II, que antigamente era o principal parque da cidade com ampla área verde, na vista de 1954 Acervo do Arquivo Histórico de São Paulo/Secretaria Municipal de Cultura
O parque deu lugar a viadutos e às estações rodoviária e metroviária Dom Pedro II - Reprodução/Google Earth
Na cinza periferia, por exemplo, as copas verdes apareciam ocasionalmente em poucas manchinhas agrupadas. Ao visitar esses locais concluíamos que quase sempre eram escolas, e aquelas árvores o resultado de comemorações do dia da árvore, quando as crianças plantavam essas mudas.
Esse trabalho me ensinou que o denso verde existe em São Paulo, mas está lá longe, na Serra da Cantareira ou na Serra do Mar, afastado da visão cotidiana do paulistano. Há, ainda, a presença de manchas verdes densas, porém concentradas em poucos parques urbanos e nos bairros jardins, estes projetados com calçadas largas e grandes lotes, onde o espaço foi pensado para permitir a existência de arborização.
Por outro lado, as poucas opções de parques da cidade lotados aos finais de semana indicam a busca por espaços arborizados e opções de lazer e convivência ao ar livre.
Parque Villa Lobos
Historicamente, a legislação urbana de São Paulo não acolhe a vegetação no desenho da cidade. As calçadas exigidas são estreitas, assim como os canteiros centrais e as praças residuais. A enorme quantidade de áridos muros e arrimos aponta soluções como o uso de jardins verticais e trepadeiras para estimular a cultura de apreciação do verde. O termo “Calçada Verde” aparece como uma exceção e não como uma alternativa desejável a todas para a melhoria visual e ambiental da cidade.
Nas cidades, seria ideal que as calçadas ou, melhor, os passeios públicos tivessem em torno de 7 metros de largura. Quanto mais largos, maior o espaço para instalação de ciclovias, para circulação livre do pedestre, assim como para a prática da caminhada e do cooper e, claro, para a arborização.
"Calçada Viva", projeto conceito apresntado na Casa Cor 2006
Protagonistas na discussão sobre a responsabilidade de construção e manutenção, as calçadas sempre foram vistas como "terra de ninguém", inclusive sendo alvo do descarte de plantas inutilizadas nas residências.
A grande quantidade das enormes figueiras que hoje pontuam a paisagem paulistana é resultado da moda nos anos 50. Eram plantadas como se fosse uma folhagem em modernos vasos cônicos para a decoração das salas. Suas enormes folhas duras e lisas eram lustradas pelas senhoras mais zelosas que quando tinham seus vasos quebrados pelas fortes raízes "jogavam" o problema nas calçadas. Um exemplo que denota a necessidade de técnicos preparados para trabalhar nos espaços públicos, incluindo a arborização como um elemento ambiental importante para a identidade de uma cidade.
Na hora de escolher as espécies para arborizar os passeios, é fundamental considerar o porte, a forma da copa, a caducifoliedade, a floração e até as raízes que podem levantar e destruir pisos, muros e construções. Também é importante verificar origem e adaptabilidade das espécies às condições de solo e clima.
Arquiteto Paisagista