
O mercado de trabalho nas diversas escalas do paisagismo
- Benedito Abbud
O primeiro mercado de trabalho dos paisagistas no Brasil foi o jardim residencial de alto padrão que abrange o espaço externo dos lotes das residências unifamiliares. Aqui o profissional trabalha as relações das visuais internas e externas, o recuo frontal como cenário visto da rua, o tratamento dos muros, as áreas de lazer com programa que atende o gosto e a cultura específica daquela família. Hoje, com o aumento dos profissionais, esse mercado vem se popularizando para as moradias da classe média com espaços mais reduzidos e soluções bastante criativas e econômicas.
Posteriormente, se desenvolveu outro mercado, as áreas externas dos edifícios multifamiliares. Nesse caso, o programa vai atender os futuros moradores que pertencem ao público alvo a que o empreendimento se destina. Assim o lazer pode atender às famílias jovens com crianças, descasados, público gls, casais mais idosos cujos filhos já saíram de casa, idosos, etc. Nesses diferentes universos, o paisagismo vai trabalhar além dos jardins que trazem a "natureza" no meio urbano, os equipamentos de lazer que serão uma nova extensão dos apartamentos que estão cada vez menores em função do seu alto custo. Em outras palavras, mora-se em poucos metros quadrados e aqueles equipamentos que seriam pouco utilizados na residência como piscinas, playgrounds, salão de festas, jogos e ginástica, são compartilhados e mantidos por todos os condôminos.
Outro mercado que está acontecendo ultimamente são as quadras abertas dos empreendimentos de múltiplos usos que misturam torres de escritórios, moradias, lojas, restaurantes, praça de alimentação e até cinemas e teatros. São espaços privativos, mas destinados a uma coletividade maior, do bairro e até de abrangência metropolitana quando atendidos por transporte público eficiente. Esses locais em geral limpos, seguros e bem mantidos estão utilizando as áreas verdes mínimas, as áreas permeáveis obrigatórias e ainda se aproveitando das sábias leis que aumentam o potencial construtivo quando se criam espaços de fruição, praças que surgem quando se usa até a metade do terreno para a construção, etc.
Mas o mercado que devemos conquistar agora são os totalmente públicos, usados por todos os cidadãos, e são a grande maioria dos espaços livres pertencentes ao universo da cidade. Este enorme mercado de trabalho já é prioritário em muitos países desenvolvidos. São as calçadas, alamedas, canteiros centrais, parklets, pocket parks, praças, parques, etc. Espaços abertos onde as pessoas circulam, contemplam e vivenciam as cidades. Nesse caso os clientes são os órgãos públicos formados por prefeituras, governos estaduais e federais.
Precisamos demonstrar que o investimento nesses espaços além de trazer a natureza para o meio urbano, melhora a qualidade de vida das pessoas, o meio ambiente e principalmente cria beleza aumentando a dignidade e o orgulho dos cidadãos.